sexta-feira, 29 de maio de 2009

Esquecimento


Todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. Ficaram Só Os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da Morte. Os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e Foram Demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como Lágrimas. Sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, cada hora, Não irei negar isso. Não irei negar nunca que te amei. Nem mesmo quando estiver Deitado, Nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a Foder.

Tinhas o olhar no limite da melancolia. Num qualquer sinal indecifrável (de emergência?!) que eu não consegui desvendar. O silêncio nocturno da cidade a demorar-se pelos cantos da manhã ainda te ecoava nos ouvidos e o olhar achocolatado deu lugar a uma voz rouca e sumida. Falavas da fragilidade dos sonhos e enrolavas as mãos num compasso nervoso e apressado. Trazias uma armadilha por detrás do sorriso que eu julgava ser apenas cúmplice de segredos ainda por revelar. Não soube reconhecer o remorso que te habitava os olhos, esse tal ladrão (tão conhecido) que ajuda a desfolhar lentamente o deslumbramento cada vez mais dissolvido no vaguear dos ponteiros tontos do relógio. Só me lembrei da chama que me aqueceu o peito e que me deixou o coração a palpitar de novo, num ritmo desenfreado, quase perdido na loucura das labaredas do teu lume cego. Desculpa. Só me apercebi dos lampejos de desejo, aqueles que te assaltaram o rosto naquele instante. Não pedi autorização para descobrir a beleza dos mistérios proibidos, sempre longe da razão. Sustive a respiração para não fazer barulho, porque a voz do coração é muito pequena, e fiquei assim até me ouvires. Mas o barulho do meu coração só te trouxe o vento. Batia com mais força com o silêncio. E disso não estava eu à espera. Arder é pecado e eu não sabia. Tanta verdade devia doer nos olhos, na ponta dos dedos e até na língua. Em todo o lado. Também nos ouvidos. Tenho os olhos cheios de palavras mas nos meus ouvidos já há demasiado silêncio. Ouvi cada passo teu, quando te foste embora, primeiro fora e depois dentro de mim... A porta primeiro abriu-se, depois fechou-se e o silêncio ficou lá fora. Cá dentro, só o peso das minhas lágrimas ainda por cair. Queria ter-te perguntado: O que significa quando se tem sempre na cabeça os olhos de alguém? Terias respondido que é impossível roubar os olhos de uma pessoa e metê-los na cabeça. Que isso nunca acontece. Que o amor se desfaz nas frases adversas e nos momentos maus, nas ausências impossíveis de curar. Por isso fiquei calada, perdida na calma aparente de quem sabe para onde vai: esse paraíso flutuante do esquecimento. Até amanhã....

Nenhum comentário: